Na rica Brasília, a crise foi mesmo uma marolinha

  • 11 de agosto de 2009
Cidade teve blindagem do poder aquisitivo da população, emprego estável e programa de investimentos
Para BRASÍLIA, a crise não passou mesmo da “marolinha” imaginada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva quando ela começou a mostrar os dentes, ano passado. Cidade mais rica do país, onde a renda per capita chega a R$ 38 mil ao ano, a capital da República passou praticamente ao largo da crise global, salvo um susto aqui e outro acolá. A blindagem veio do alto poder aquisitivo de sua população, da estabilidade no emprego e de um intenso programa de investimentos do governo local, que até 2010 deve injetar R$ 3 bilhões na economia com a construção de 1.760 pequenas e grandes obras públicas.
“Aqui não tem nenhuma crise, o que você tem, você vende”, diz o presidente do SECOVI/DF, Miguel Setembrino. Mesmo se o lançamento imobiliário custar R$ 10,5 mil o metro quadrado, como aconteceu recentemente com um empreendimento no setor Sudoeste. Para Setembrino, BRASÍLIA já é o segundo maior mercado imobiliário do país, atrás somente de SÃO PAULO, mas à frente do RIO DE JANEIRO.
No setor imobiliário, sempre um bom termômetro da atividade econômica da cidade, os piores meses foram dezembro e janeiro. Mas já em fevereiro as vendas de imóveis superaram a soma dos dois meses anteriores. Esse foi o período crítico também do comércio, cujas vendas chegaram a cair 12%. Em fevereiro, o desempenho já estava em um terço disso (queda de 4,3%), mas desde março os dados só apontam para cima e o desempenho acumulado de 2009 já está em 0,79% – é claro, nada comparável com o mesmo período de 2008, antes da crise, quando o crescimento foi de 7,05%.
Os supersalários do funcionalismo e os investimentos públicos seguraram a onda, mas as características da economia de BRASÍLIA ajudaram – terciária, com a maior parte dos empregos gerados no comércio e no serviço público, ela foi menos impactada que os estados exportadores, os produtores de commodities e aqueles assentados no setor metalúrgico, como Minas Gerais.
Em resumo, os altos salários pagos pelo Judiciário, Legislativo, Ministério Público e Executivo, estadual e federal, ajudaram BRASÍLIA fazer da crise a “marolinha” anunciada por Lula.
Não é exagero quando se fala de supersalários. No Executivo federal, o gasto médio é de R$ 5.531 por servidor. Na administração direta, esse gasto chega a R$ 15.501 no Banco Central e vai à estratosfera quando se trata do Ministério Público da União: R$ 18.794. Nas empresas públicas e sociedades de economia mista fica pouco acima de R$ 7 mil. Já a média salarial paga pelo governo de BRASÍLIA não é muito diferente: R$ 4.577.
Mas para o governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, a alta renda per capita de BRASÍLIA ajuda a explicar apenas uma boa parte do motivo pelo qual a cidade sobreviveu bem à crise. “A renda per capita alta engana, no caso de BRASÍLIA, porque nós temos o perfil de grande desigualdade: uma pequena parte da população com alto índice de remuneração, mas uma população majoritária da população de desempregados e subempregados com remuneração baixa.”

Fonte: VALOR ECONÔMICO

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